Dias atrás, resolvi ir a pé com meu filho a um supermercado perto da nossa casa. Coisa de três quadras, 20 casas para cruzar em frente. E não é que, em mais da metade das residências, não havia calçamento? Resultado: fomos a pé, em boa parte do trajeto, pelas ruas. Como moramos em um bairro bem visto na cidade, a questão não é econômica, senão que cultural, digamos. Os moradores não fazem questão, a Prefeitura não fiscaliza e fica por isso mesmo.
Ao menos no nosso caso, esta é uma situação eventual, pois temos carros e boa parte dos nossos deslocamentos são feitos em automóveis Mas, sinceramente, adoraria caminhar com meu filho pelas calçadas da área onde moramos, sem ter de recorrer às ruas. Ou aos veículos. Duas casas abaixo da nossa, entretanto, mora uma família que não tem carro. Ali, habitam duas crianças – de cinco ou seis anos cada. E, todas as tardes, o menino e a menina dependem das ruas em boa parte de seus deslocamentos até a escola.
Mais do que para meu filho, talvez eu escreva a coluna Circulando em favor destas duas crianças vizinhas. Talvez as minhas parcas reflexões tornadas públicas possam servir de alertas, ainda que mínimos, sobre a cidade que estamos legando aos nossos filhos. Ou aos filhos dos outros. E sobre o quão importante é pensarmos se não estamos sendo coniventes com as barbaridades que, cada dia mais, proliferam pela cidade, sem que façamos algo para combater isso. E sobre o quão omissos somos quando o Poder Executivo Municipal faz propaganda enganosa em muitas situações, como estas dezenas de placas pela zona urbana há meses indicando obras que nunca começam.
Meu filho, Gabriel, não é um alienado. Tanto quanto é possível para uma criança de 4,5 anos, ele tem algumas pequenas obrigações, como realizar sua tarefa escolar sempre com tempo. Quando seus pais fazem alguma atividade voluntária, ele vai junto – desde que não seja em horário de sua aula. Dias atrás, ele participou de uma campanha de educação para o trânsito. E este é só um exemplo, em que é fácil comentar a ele qual é a importância de uma ação assim. Um tanto difícil foi responder a pergunta dele, quando da ida ao supermercado, das razões da inexistência de boa parte das calçadas. Mais do que nunca, naquele instante percebi que, mesmo bastante insignificante, minha coluna pode sim servir como sinal amarelo sobre a condição de Guarapuava, a cidade que escolhemos para viver e lugar onde meu filho deverá passar uma parte significativa de sua vida – talvez a mais relevante, a infância.
E, por falar em insignificância, parece que Fernando Carli Filho, o Mintendi, continua a ler a Circulando. Escondido sob o manto do anonimato, um leitor da coluna enviou mensagem nesta terça (5) dizendo que tenho uma 'quantidade aviltante de seguidores. Dez (10'). Em seguida, escreveu 'Já avaliou sua real expressão? Encontrou a própria insignificância? E agora, entendeu?'. Pode até não ser Fernando Carli Filho, o Mintendi, o autor de tal mensagem, mas que parece, parece, dado o estilo pitoresco.
Há mais: pois não é que este leitor errou – e duas vezes? Não são 10 mas 16 – 12 no Google Friend e 4 no Twitter. Segundo, tenho é bastante satisfação de ter 16 seguidores, já que encontraram na Circulando ideias que provocaram reflexão. Meus 16 seguidores compõem uma audiência qualificada, assim como quase todas as 467 pessoas que acessaram o blog nas últimas 24 horas.
Digo quase todas pois, claro, sempre há exceções. Como disse, suspeito que Fernando Carli Filho seja meu leitor, enquadrando-se nas exceções quanto à audiência de qualidade. Outra exceção parece ser um leitor (igualmente anônimo) que, em vez de escrever 'hein' digitou 'emm', fora outros erros gramaticais toscos demais, o que, ao menos neste caso, parece indicar bem o baixo nível de seu raciocínio.
Como disse, escrevo também para a audiência qualificada que pareço ter. Em pouco mais de um ano de Circulando, com 32 textos publicados, são mais de 50 mil acessos. Ainda assim, talvez seja pouco. Mas talvez seja o suficiente para provocar mudanças de comportamento em muitas pessoas ao menos no bairro onde moramos, de modo que eu, meu filho, as duas crianças vizinhas e todos aqueles que circulam a pé por aqui possam, com o tempo, ter um passeio público continuo ao longo de três meras quadras, como um simbolo de uma cidade mais estruturada e governada por pessoas que, de fato, se preocupam com a coletividade – e não por gentes que, em pleno 2011, se comportam como Lampião e seus cangaceiros Moeda e Colchete. Mintendi?