16 de mar. de 2011

Guarapuava natalina, será que os argentinos têm razão?

(Publicado originariamente no segundo semestre de 2010)

Saí a caminhar pela noite da cidade, às vésperas do Natal. Um frenesi noturno, com as pessoas carregadas de sacolas, abraçando-se, rindo de sua própria condição de bem-estar com a vida ou algo assim. Cheguei a me perguntar se não teriam razão os argentinos, que em diversos lugares (sobretudo no interior) ainda mantêm o hábito de fechar o comércio durante boa parte da tarde, abrindo à noite por mais horas em consequência. Guarapuava me pareceu bastante alegre na noite. Espírito natalino, dirão alguns. Talvez, mas o fato é que a cidade estava mais bonita nesta noite.
Pois eu caminhava sossegadamente quando ouvi o som de uma banda não muito longe: na esquina das ruas XV e Saldanha Marinho, a Bandinha de Noéis da Prefeitura alegava um tanto mais um punhado de gente. Excetuando-se pelo rebolado indecente do papai Noel (um dos 20 integrantes do grupo), a qualidade da apresentação era ótima. Em certa altura, a regente da Bandinha desatou a falar, como se uma cerimonialista fosse, apresentando cada integrante e relatando sobre o projeto. Pois quando ela desatou a falar, desandou – não havia um microfone ali para a moça poder se fazer ouvir o suficiente. Ah, este clima natalino que deixa as pessoas eufóricas, a pé ou de carro, provocando intenso barulho enquanto a regente fala!
Naquele instante, senti falta do prefeito de Guarapuava, o mais novo expert em cerimoniais da região. Estivesse por ali o sujeito, mandaria colocar um microfone para a moça – e para ele, claro. Lamentavelmente, o prefeito não se fazia presente, assim como seu assistente de palco Bernardo, sobre o qual me contaram dia desses, que, em um dos recentes jogos das finais da Série Ouro do futsal do PR no ginásio Joaquim Prestes, aboletou-se em uma das cabines de Imprensa, com alguns parceiros, ocupando espaço de profissionais que estavam para trabalhar.
Bem, percebida a falta do prefeito, fiquei a prestar atenção naqueles que ali observavam o espetáculo. Giro o rosto à minha esquerda e vejo dois policiais militares. Momento seguinte e uma senhora chega com duas crianças (a maior devia ter oito, nove anos) e, brava e gritando, ela diz 'vocês fiquem aqui, não saiam daqui'. Em seguida, a mulher (avó das meninas?) se vira e, com duas amigas/parentes, entra em uma loja próxima dali – presentes natalinos devem ter ido adquirir. Os PMs, estupefatos, olham as crianças ali largadas, enquanto as três senhoras (no melhor estilo cajazeiras) se refestelam na loja.
Salvo melhor juízo, as duas crianças pertencem a uma conhecida família do ramo hoteleiro de Guarapuava, com estabelecimento na mesma rua XV. E não é que a apresentação da Bandinha acaba e nem sinal das senhoras cajazeiras? Um dos policiais decide levar as garotas até o interior da loja, onde continuam as três. Normalidade retomada, o PM retorna à viatura e o tempo segue.
De minha parte, resolvo atravessar a rua e continuar meu passeio. Noto que, na faixa de segurança, carros com placa de Guarapuava não dão preferência aos pedestres. Uma família – pai, mãe e filha provavelmente – se aproxima da lateral da via e aguarda. Um motorista em uma Scenic azul (placa azul) cede a vez à família. Olho bem e vejo que, dentro do veículo, também há uma criança, de colo. Fico ali mais um pouquinho e chega um garoto educado – a bordo de uma Pajero preta, ele também para na faixa de segurança e permite a travessia dos pedestres. Na placa do automóvel, leio 'Pato Branco'.
É, Cazuza tinha mesmo razão. Bobeira é não viver a realidade.

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