16 de mar. de 2011

A gestão do choque de Guarapuava

(Publicado originariamente no primeiro semestre de 2010)

Em Guarapuava, lamentavelmente, o quadro está assim: a cidade está sem piloto, nem cinto, nem avião. Até o instante em que escrevo estas linhas – quase 100 horas depois da tragédia que vitimou o atleta de futsal Robson -, o prefeito local não havia aparecido em público para se manifestar sobre o caso, embora, em última instância, a responsabilidade final pelo ginásio onde o acidente aconteceu seja do chefe do Executivo Municipal.
Em Guarapuava, portanto, a tática é assim: o que vale é a 'gestão do choque', e não o 'choque de gestão', marca de algumas das mais eficientes prefeituras destes País. É impressionante a capacidade da atual administração em deixar a população perplexa, negativamente perplexa. Ou, ao menos, boa parte desta população, já que muitos também se calam diante de tantas barbaridades em sequência.
Eis um bom exemplo: entro no site da Prefeitura e vejo que o principal destaque é um evento técnico sobre a cultura do milho. Não tiraram nem a chamada que menciona a 'Copa Futsal Guarapuava 200 anos'. Se alguém desejar saber mais sobre o episódio por meio do site municipal, encontrará apenas uma nota lacônica de pesar. Precisará o internauta recorrer à mídia local, estadual, nacional e até de fora do Brasil. Aliás, por falar em Imprensa, li uma reportagem dias atrás que fazia a menção a determinado secretário municipal, que teria comparado o Ginásio Joaquim Prestes a um coliseu, aqueles espaços monumentais da Antiguidade onde espetáculos mortais aconteciam.
O fato é que a cidade está sem rumo. Mas, em paralelo à letargia que ronda a administração municipal em boa medida, há de se considerar a passividade da maior parte dos moradores quando de casos assombrosos como este do futsal. Devem estes ainda crer que Cidadania é somente o ato de votar de tempos em tempos, perpetrando a concepção errada de que Cidadania é um dever – e não um direito. Tenho a impressão de que há uma satisfação em larga escala pelo fato de termos algumas praças bem cuidadas, além de alguns jardins bonitos que ajudam a encobrir as grandes mazelas municipais, aí incluindo o ridículo estado da via de acesso secundário a Guarapuava, a partir do quilômetro 338 da BR-277. Tenho a impressão, enfim, de que nos contentamos com tão pouco.
Por vezes, fico pensando se o prefeito tem o hábito de se deslocar por aqueles lados da rua XV em seu automóvel particular. Possivelmente não, pois, no máximo, cruza por lá em veículo oficial, já que não é dele mesmo e, em caso de quebra, não sairá do seu bolso o valor do conserto.
Ao prefeito, nesta edição inicial da coluna Circulando, deixo a sugestão de que percorra a cidade dirigindo, por exemplo, um ônibus urbano, para sentir os solavancos das ruas esburacadas. Também lhe proponho a parar de pensar que, enquanto prefeito, está sempre viajando na primeira classe das aeronaves, senão que possa ser também um daqueles passageiros que tomam um avião mais velho e se sentam nas últimas fileiras, bem ao lado da turbina que está por cima da asa, onde a realidade é mais dura, mais sofrida, tal qual a situação da família do jogador Robson, que merecia e merece muito mais do que o tratamento que tem recebido até o momento.
Quem sabe aí, e finalmente, a atual administração passe a oferecer a Guarapuava um choque de gestão, algo bem mais relevante e produtivo para a sociedade do que ficar gastando dinheiro público em uma tétrica campanha de (duvidosos) 200 anos da cidade.

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